sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Diário do Convés - 10 de dezembro de 2009

A saudade imperativa obrigou-nos a um café frio às 10h da manhã.
“Arroz branco. Eu estou fazendo arroz branco. Sua pele é tão branca. Branca como nossos panos da cama. Você me ama? Eu fiz uma coisa horrenda. Intragável para comer. Arroz branco sem você.[1]
Antes do convés, ao chegar na maresia das ruas, as lágrimas caíram. Mas, o levante do arroz fez salada de felicidade.
De manhã cedo, o convés foi lavado por uma felicidade: águas, águas e sabão. O pão foi preparado e o café. Ela chegara e toda alegria se fez no convés dos beijos.
Ele sorriu. A casa arrumada. Os livros organizados na estante. O vento soprava uma atmosfera branca. O tripé da câmera armado, à espera de tiros de inspiração. O violão desafinado encostado na parede.
Ficamos uma bandeira no quarto.
Gestos de saudade espatifados em nossas roupas, junto ao sofá-cama. Euteamos. Eutambémteamos.
Agora temos um holodeck no quarto.
“Que vão que fazem as noites só porque não está comigo...[2]
O convés no processo: água gelada e fogo. Isso vem de alma, carne e beijos no pescoço. Vem asas para as nossas línguas e gestos e gostos – arroz e agarros encantados: nosso arroz agora tem asas – pirilampos encantados, encontrados e felizes de tanto se abraçar.
- Não chore, meu amor – palavras de Stella – Nosso arroz já tem asas.
- Coisa linda! – palavras de Ícaro – Coisa linda! – ele repete.
“– Eu quero o mar.
– Já é seu.
– Quero dentro do meu quarto[3]”.





[1] Poema Arroz branco, do livro Fodaleza.com, de Cláudio Portela.
[2] Trecho de No Recreio, de Nando Reis.
[3] Trecho do conto Nenhum aquário é maior do que o mar, do livro A lua de Ur num prato de terra, de Alan Santiago.

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