domingo, 27 de dezembro de 2009

poesia de todo mundo e nossa poesia

"... me tirem o mundo, me deixem a poesia
me tirem tudo, salvem a poesia." m.frança

acidade é um forno, tem 40 graus de temperatura e os termômetros estão explodindo : esperando que vem por aí um inverno rigoroso - preparem-se que vem chuvas que levam vidas - preparem-se.

acidade é um cabelo retorcido e os homens, peças enferrujadas continuando o dia - e continuando - quero esconder essas peças, trocá-las, quebrá-las e jogá-las fortemente ao chão : vem jogue o corpo sobre o meu e seja feliz como nunca fora.

acidade é um pensamento fora do tempo. acidade é meu amor, adormecendo ao meu lado. cida cida cidade.

"... o ranger de sua caneta misturava-se ao triturar dos pedaços na sua boca..." Herman Meliville

- toca fogo nessa porra!
- o amor é tocador de harpa no meio do deserto.

"o dia de ontem passou./Eu também./Já não sou o mesmo./Mas continuo vivendo./Escrevendo tão desenfreadamente quanto ontem:/não tenho compromisso com a poesia bem comportada/todo o compromisso que tenho é como o feio e o trágico/Sou o poeta das derivações impróprias!" Cláudio Portella - fodaleza.com

- terminei, meu amor, vamos ao mercado preparar o nosso jantar.
- vamos jogar xadrez, faz tanto tempo que não jogo que não lembro como o cavalo anda.
- caldo de caridade é bom.
- vamos logo, comer.

Véspera de natal.

24 de Dezembro de 2009.

" Os que se amam/gastam os pés na direção dos rios
os olhos vão/ao horizonte/onde os barcos fogem
os ouvidos/ouvem/as canções dos peixes/na palavra do vento/no domínio do mar
os que se amam/não sabem que o amor tem a natureza dos abismos"
A palavra na canção dos peixes - Barros Pinho


Ser contigo, meu amor.
Ser apenas.
Cantar hinos, ouvir tocar os sinos...
Apenas.

Sermos bauls, deixando-nos levar pelo vento.
Ouvir sorrisos, ainda que distantes.
Sermos felizes, apenas.

Sermos simples, apenas.
Coisas de amor.
Apenas.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Universos (Sobre a canção dos dias)

“O fardo mais pesado esmaga nos, verga nos, comprime nos contra o solo. Mas, na poesia amorosa de todos os séculos, a mulher sempre desejou receber o fardo do corpo masculino. Portanto, o fardo mais pesado é também, ao mesmo tempo, a imagem do momento mais intenso de realização de uma vida. Quanto mais pesado for o fardo, mais próxima da terra se encontra a nossa vida e mais real e verdadeira é”.



Cai
Gota
a
Gota
a minha vida
sobre
a
tua.

Cai
Gota
a
Gota
a tua vida
sobre
a
minha.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

o que teus olhos dizem aos meus

"Mas o olhar, de estar olhando/Onde não olha, voltou/E estamos os dois falando/O que se não conversou/Isto acaba ou começou? " Fernando Pessoa

Sobre o temp(l)o do silêncio

O amor solta farpas e flechas.
O amor grita.
O amor tem seus desesperos anunciados.

Mas o amor cala, engole, faz emplastro da dor.

Por você, engoliria um dicionário...



Parte 2
(Sobre coisas que não podemos (conseguimos) dizer)

Eu amo você.
Eu amo você com toda a minha humanidade.
Com toda a aspereza da minha pele rugosa.

Perdoe o meu silêncio.
Quero virar cetim pra te fazer carícias.

sábado, 12 de dezembro de 2009

toda a beleza do mundo

" o mundo inteiro estremece no punho" léo mackellene


ele elevou os braços e caiu na prisão
beijou o chão, sujo e molhado de dias e de almas
precisou queimar as roupas
o cheiro de azeite velho enrugava seus olhos
não saberia encontrar o fim do labirinto.

construi o barco
remou
remou
remou
construi o poema

ele, o profeta e o menino
elevou os braços e debaixo da corrente da água
nascido, imperou o grito
dançou e balançou
e rezou.

ele, o menino e o profeta
tiveram novamente a volta ao útero
agarrou a mãe e aqueceu o peito
e mais, uma vez
recorreu aos dias, suas máculas foram, partiram
abraçou a mãe e retornou ao lugar sagrado do útero
a placenta e a meladeira do gozo
voltoram e agradeceu.

ele, o menino e profeta
se acalmou
e teve alma cortada e abençoada.

do seus peitos avoaram a beleza dos dias
do seus olhos vertigens e cintilações
mil estrelas cairam e nesse segundo nasceram milhares, quase-segundo
um homem se salvou e toda humanidade nasceu de novo.

"quem salva um homem salva toda a humanidade" Maomé.



ícaro mares

entre o céu e a terra

"para o Altíssimo, o Misericordioso"


quando tudo começou, tínhamos apenas o mar do mucuripe como paisagem e uma criança brincando na maré dos sonhos - as águas tranquilas dançavam, tudo era calmo, tão uma brincadeira de menino nu se entregando às ninfas.

no mar, no ar, no sol, na terra : fogo dos céus desceu - os profetas voaram em carruagens de arcanjos - receberam o bastão para a corrida e nãos se entregaram.

temos as mensagens - os relatos - as dificuldades dos tempos - e a roda da sansara.

o velho passageiro : - você tem medo?
a sereia : - contigo, estamos seguros.

a maré mais uma vez balança e deitados no ar, sentimos toda a leveza dos encantamentos e a descoberta da fragilidade das almas, do ícaro e de marina, assim, seguimos e puxamos o barco, a vela, içar fortaleza & fé. seguimos.

os computadores, bits, pats, vertz - trocam figuras - ditos, símbolos, na matemática dos olhares, toda revolução, conte até dez e me dê mil beijos, estamos entre o nada e o todo - nossa visão é rasante e na pele nos sentimos mais completos - me agarre e sinta o calor de nossas taras - venha e seja no deserto toda água de banho e de beber - e toda imensidão do Amor.


com Deus, estamos melhores.
estaremos, estivemos.

com Deus encontramos a paz.

os intelectuais brincande de roda
os rebeldes atirando tomates
molho de seda para os hipócritas
risos amarelos para os desalmados.



o caminho é longo.
com Deus encontramos a paz.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

7 da manhã: corrida

às vezes, de manhã é a hora mais importante do dia para dizer eu te amo. às vezes, tudo se vai.
se acorda como quem reza e chora como quem canta.

12 da manhã: merenda
o suco de açaí tinha gosto de bananada de mãe com bolacha cream cracker, substituímos os miúdos do mercado por lanche, adormecemos entre os livros, num sofá vermelho - vermelho que é a cor da elevação.

hoje não andamos de elevador, apenas de escadas, ou será, antes-de-ontem - o que é importa é andar para todos os lados.

A sala que nunca fecha



"Naveguei com meus desejos/e você não sabia que eu sonhava./ Escondi minha vontade,/Estive inseguro/e segurei sozinho as minhas dúvidas./ Desejei ser seu rei/ e fui réu confesso/não forcei./Acreditei que seria capaz" (Quase poema, do livro homônimo de Manuca Almeida)



Ele me pegou pela mão.

Livros, papéis. Físicas-matemáticas desenhadas no branco.

Azuis-dançantes-integrais.

Entramos em uma sala. Que nunca fecha. Nunca. Um portal?

A sala nunca fecha. Os livos nunca fecham. Silêncios davam as costas para nós.

Números e vetores explodiam emudecidos nos olhos debruçados por sobre as bancadas.

A sala nunca fecha. Nunca.

Estava fria. Eu navegava pelo computador.

- Quer café? - perguntei.


- Só um pouco - Ícaro.

Eu o admiro em suas linhas geométricas. Eu o vejo, eu respiro a sua síntese.

- Boa prova - eu disse.

Ele me sorriu. Abriu a porta, confiante. Saiu.

Mas a sala nunca fecha. Nunca. Nunca.








Stella Marina
(Foto: Stella Marina)

Entre o mar e a terra


7h da manhã.

- Meu amor, você fica linda ao acordar.

Sacolas e tropeços até o carro.

- O que faremos agora? - inquietudes stellíricas.

- Você verá - icalmarias.

Pingos esgios desciam pelo vidro. Melavam, com uma transparência suja, o pára-brisas.
Stella escorria sonhos pelos olhos.

- Por que estás chorosa, meu amor?

- Difícil caminhar entre o mar e a terra...

Silêncio.

Diário do Convés - 10 de dezembro de 2009

A saudade imperativa obrigou-nos a um café frio às 10h da manhã.
“Arroz branco. Eu estou fazendo arroz branco. Sua pele é tão branca. Branca como nossos panos da cama. Você me ama? Eu fiz uma coisa horrenda. Intragável para comer. Arroz branco sem você.[1]
Antes do convés, ao chegar na maresia das ruas, as lágrimas caíram. Mas, o levante do arroz fez salada de felicidade.
De manhã cedo, o convés foi lavado por uma felicidade: águas, águas e sabão. O pão foi preparado e o café. Ela chegara e toda alegria se fez no convés dos beijos.
Ele sorriu. A casa arrumada. Os livros organizados na estante. O vento soprava uma atmosfera branca. O tripé da câmera armado, à espera de tiros de inspiração. O violão desafinado encostado na parede.
Ficamos uma bandeira no quarto.
Gestos de saudade espatifados em nossas roupas, junto ao sofá-cama. Euteamos. Eutambémteamos.
Agora temos um holodeck no quarto.
“Que vão que fazem as noites só porque não está comigo...[2]
O convés no processo: água gelada e fogo. Isso vem de alma, carne e beijos no pescoço. Vem asas para as nossas línguas e gestos e gostos – arroz e agarros encantados: nosso arroz agora tem asas – pirilampos encantados, encontrados e felizes de tanto se abraçar.
- Não chore, meu amor – palavras de Stella – Nosso arroz já tem asas.
- Coisa linda! – palavras de Ícaro – Coisa linda! – ele repete.
“– Eu quero o mar.
– Já é seu.
– Quero dentro do meu quarto[3]”.





[1] Poema Arroz branco, do livro Fodaleza.com, de Cláudio Portela.
[2] Trecho de No Recreio, de Nando Reis.
[3] Trecho do conto Nenhum aquário é maior do que o mar, do livro A lua de Ur num prato de terra, de Alan Santiago.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Convescote

convescote

Significado de Convescote
s.m. Bras. O mesmo que piquenique.

Sinônimos de Convescote
Convescote: piquenique

Definição de Convescote

Classe gramatical de convescote: Substantivo masculino
Separação das sílabas de convescote: con-ves-co-te
Plural de convescote: convescotes
Possui 10 letras
Possui as vogais: e o
Possui as consoantes: c n s t v
Convescote escrita ao contrário: etocsevnoc
Na numerologia convescote é o número 4

Rimas com convescote

dote
bote
saiote
chicote
sacerdote
caixote
trote
camarote
cangote
magote
glote
barrote
cogote
pinote
lote
pacote
bagarote
mascote

O amor começa pelos pés

Os pés dele caíram sobre os meus.

Mucuripe.

Era uma sexta-feira. Noite já. Os camarões exalavam um frescor de óleo e alho.
Dissolviam-se em nossas bocas.

E os pés dele caíram sobre os meus.

E nunca mais pararam.

Primeiro os pés. Depois pernas. Corpo e mãos. Tudo de Ícaro cai e recai sobre meu corpo. Todos os dias e todas as noites. Desde a queda dos pés.

Pelos pés, saí da terra. Viramos peixes. Oceanos de nós.

- O que acha de morar num convés? - perguntou.
- É um convite? - respondi.

E nunca mais paramos de nadar.


Stella Marina